quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ENERGIA

Não sei.
Não encontro título melhor.
Quero percorrer os caminhos de minha mente agora, enquanto ainda tenho um rastro do acontecido para ver se tento descrever o indescritível.
Não vou conseguir. Mas que fique ao menos a tentativa.
Vêm ao pensamento as pinturas de Dali, de Van Gogh, misturadas ao colorido de Romero Britto nas estórias de Alice. As parábolas de Rubem Alves conversando com Leonardo Boff que brincava com Cazuza cutucando Bach no livro Espiritualidade para Céticos, de Robert Solomon.
Loucura, loucura, loucura, diria o apresentador.
Rita Lee diria que é rock.
Naquele caminho que não acabava mais, o corpo começou a flutuar. Não sentia mais as pernas. De repente não conseguia mais ter controle do pensamento. Parecia que estava conseguindo enxergar as sinapses. Uma claridade estonteante no meio das sombras dos eucaliptos gigantes que margeavam a estradinha iluminava  somente meu campo de visão.
Para Raul seria metamorfose.
Não eram minhas pernas que corriam. O local em que já passei tantas vezes parecia que não era o mesmo. O que se passava em minha cabeça não era pensamento. Não era sonho. Tampouco era realidade.
Efeito da endorfina e da serotonina falariam os fisiologistas e educadores físicos.
Sabia onde estava, tinha noção do meu cansaço (o treino de hoje foi de 24 km), estava seguro de que estava em perfeita sanidade mental (não cheguei a me beliscar pra ver se não estava sonhando, mas tinha certeza que não estava louco). Mas não era eu quem estava me conduzindo.
Sei lá.
Nirvana.
Puro êxtase, diria Frejat.
Viu a bruxa, diria uma amiga que apelidou esse local de "Percurso de Blair".
Ali, no meio do silêncio ensurdecedor do nada, a dualidade corpo x mente não existia de jeito nenhum. Não era a mente mandando o corpo correr, nem o corpo pedindo para parar. Era sintonia. Era integralidade. De repente encontrei Caballo Blanco e uns tarahumaras que correram comigo por uns instantes e sumiram no nada.
Física quântica, diria Einstein.
Papa Francisco (seguindo o que Boff já teorizou), concordaria, dizendo que é o encontro da religião com a ciência.
Sabia que estava numa descida ou numa subida (e que subidas!). Mas não sentia em momento algum os efeitos disso. As passadas eram como de um queniano, mal tocando o chão pedregoso.
As folhas caindo das copas dos eucaliptos completavam o cenário maravilhoso (será que caíam mesmo?).
Barato de corredor, diriam os corredores mais experientes.
Vai Corinthians! Gritariam os fanáticos.
Podia sentir o sangue jorrando do coração e preenchendo os músculos. Parecia que conseguia olhar por dentro de todo meu organismo e ver músculos, ossos, cartilagens, executando seus movimentos. A respiração, apesar do ritmo ser intenso, estava em perfeito equilíbrio, mandando o "gás" para os pulmões.
O cheiro da terra e do eucalipto entravam pelas narinas e compunham melodias no ritmo das passadas.
Peace, John Lennon would say.
Sei lá.
Tudo muito estranho.
Vai ver que nem treinei.
Vai ver que cheguei do trabalho, me joguei na cama e só acordei agora.
Talvez tenha sido isso mesmo.
Não sei.
Bom, chega.
Vou lavar essas meias que estão imundas.
P.S. Não me internem!
Foto de um treino de bike no Percurso de Blair

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