sábado, 13 de agosto de 2011

PINDA

Não o conheço e nem mesmo sei o seu nome, mas resolvi batizá-lo de "Pinda" e sempre me vem à lembrança quando se fala em um tal de "muro" na maratona. Foi em 2003, na Maratona de Curitiba, e exemplifica bem o que é correr 42 km.
Estava eu lá pelo km 15 ou 16, quando escutei uma gritaria que vinha do pessoal de trás. Um pouco mais à frente consegui perceber o que era: "Pindamonhangaba saúda o bairro Santa Cecília de Curitiba", gritava o atleta, faixa na testa, todo empolgado, acenando para o pessoal na calçada. Ultrapassou-me e continuei ouvindo sua alegria: "Pindamonhanbaga saúda o povo de Curitiba", e com as passadas ligeiras foi adiante,  sumiu.
Mantive o ritmo e segui. Subidas e descidas, viadutos, retas intermináveis, o sol já castigava os heróicos maratonistas e qual não foi minha surpresa quando, lá pelo km 34, ouvi novamente as saudações: "Pinda... ...monhan ... gaba... te saúda", já encurtando o discurso.
Emparelhamos e aos poucos o ultrapassei. Até o km 37 ainda escutava alguma coisa, agora mais parecendo súplicas, resmungos, lamentações: "Pinda...   ....monhan...     ....gaba!
Fui em frente. Terminei a prova no sofrimento de sempre - Curitiba não é fácil - e não vi nem ouvi mais a figura, mas acredito que, na reta de chegada, com toda aquela torcida, naquele lindo funil cheio de flores, juntou todas as suas forças e disparou: "Pinda"!
Guilherme Marques Gorski
Itararé - SP


Texto publicado na Revista Contra-Relógio nº 150, Março de 2006, página 50.

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