quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ENCERRAMENTO PRECOCE DAS INSCRIÇÕES PARA A MARATONA DE CURITIBA

Prezados amigos Latin Sports,

Vocês deviam estar lá, aconselhando Hitler a sair de fininho quando Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro na Olimpíada de 1936, para não ter de apertar a mão de um negro. Acho que vocês estavam por trás das recusas da Maratona de Boston em permitir que uma mulher participasse da prova. Se vocês estivessem por lá, Abebe Bikila não teria corrido descalço a maratona Olímpica de Roma, em 1960. Na verdade ele nem teria ido, pois foi incluído na equipe de atletismo apenas no último momento, quando o avião já se preparava para partir para Roma, no lugar de outro atleta, Wami Biratu, que havia quebrado o tornozelo durante uma partida de futebol. O técnico Niskanen resolveu inscrever Bikila e Mamo Wolde na disputa da maratona. E foi assim, ele foi inscrito de última hora...

Por vocês, Emil Zatopeck teria sido impedido de correr os 5.000, 10.000 e a maratona numa mesma olimpíada. E ele venceu as três provas, em Helsinque, Finlândia. Acredito que vocês tentaram impedir que Gabrielle Andersen concluísse cambaleando a maratona olímpica de Los Angeles, em 1984. Acho que foi de vocês a idéia do padre irlandês de acossar o Vanderlei Cordeiro na sua caminhada rumo ao ouro em Athenas.

Vocês teriam tentado impedir Greg Louganis, depois que ele bateu sua cabeça no trampolim quando tentava um duplo salto mortal. Louganis, mesmo com o ferimento, que lhe causou cinco pontos e uma cabeça raspada, voltou ao trampolim e conseguiu a medalha de ouro na Olimpíada de Seul, em 1988.

Sim. Vocês estavam lá em todos esses momentos. Não fisicamente, lógico. Mas o pensamento burocrático que carregam por detrás de suas concepções esportivas, estava lá, em vários momentos do esporte, que precisaram ser superados. Esse pensamento burocrático, capitalista, é o mesmo que norteou o encerramento precoce das inscrições e a falta de consideração pelos que dedicaram parte de suas vidas ao esforço diário no treinamento para a maratona. É o mesmo pensamento que coloca o capital se sobrepondo ao esporte. Talvez vocês também tenham até tentado impedir Feidipides de concluir sua jornada. Mas não tem problema. Nós temos conosco o ideal olímpico. Não vamos nunca ganhar a maratona que vocês organizam. Talvez nem mesmo consigamos completá-la. Mas somos atletas. Temos dentro de nós algo que vocês mostraram desconhecer. O fogo olímpico arde em nossos corações. Estamos sendo impedidos de correr nessa maratona. Mas continuamos sendo atletas, com o mesmo valor de um Jesse Owens, Bikila, Zatopeck, Gabrielle Andersen, Greg Louganis, Vanderlei Cordeiro, e tantos outros heróis olímpicos. Continuamos sendo maratonistas. Continuamos acreditando no sonho de um mundo melhor, no qual o esporte tem papel principal, pois com ele se molda o caráter, a fibra, a hombridade. Com ele se acredita mais no ser humano, e não se pensa apenas no capital.

“Muito obrigado”, Latin Sports!

Guilherme Marques Gorski, maratonista.

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