segunda-feira, 18 de abril de 2016

CHAMA SAGRADA

O revezamento com a tocha não fazia parte dos Jogos antigos, mas foi coreografado por autoridades alemãs para aumentar o fascínio e ser a marca distintiva das cerimônias de abertura dos Jogos de 1936, realizados em Berlim. Desde então, transformou-se em um dos rituais mais emocionantes dos Jogos modernos. O ato cerimonial de passar a tocha sagrada simboliza o ideal da fraternidade internacional e tem por objetivo lembrar-nos da união entre as nações. A cada quatro anos a tocha é acesa pelos raios do Sol no altar do templo de Hera, na Olímpia antiga, e levada por revezamento até o local onde os Jogos daquele ano serão realizados. Milhares de corredores passam a tocha, de mãos em mãos, de cidade em cidade, de país em país, enquanto milhões de pessoas abrem alas nas estradas e rodovias do mundo, aplaudindo o corredor e a tocha.
Símbolo de iluminação, purificação, fertilidade, calor e luz, a tocha é uma imagem poderosa. Mas a simples passagem da tocha, de um corredor ao seguinte, toca o fundo da nossa alma.
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O que têm esses gestos que nos tocam tão profundamente? Será que nos lembram de que a própria vida é uma corrida contra o tempo, que mal temos tempo de passar o que aprendemos sobre ela para a nova geração? "Sobre que asas ele ousa se elevar?" , pergunta o poeta místico Blake. "Que mão tem a ousadia de acender o fogo?"
 
"Qual é o dom dos Jogos que nós - atletas, técnicos, pais, espectadores e mídia igualmente - queremos passar adiante?
Essas perguntas de Jesse Owens nos meses e anos que se seguiram a seu corajoso desempenho nos Jogos de Berlim, quando assombrou os líderes nazistas ganhando quatro medalhas de ouro. Neto de escravos e filho de meeiro, Owens sabia da importância simbólica de sua façanha para o povo negro dos Estados Unidos. Mas também sabia que lhe havia acontecido muito mais coisas em Berlim do que bater recordes mundiais e ser coroado de louros. Ele escreve em sua autobiografia que tinha passado toda a viagem para a Europa com esperanças de descobrir o verdadeiro significado das Olimpíadas, para acabar concluindo que "A vida - a vida interior - é a verdadeira Olimpíada". a partir de suas provações com os nazistas e da amizade que fez com seu maior rival, o campeão alemão de salto em distância, Luz Long, descobriu que "A força espiritual é mais importante que a força física".
Quando Owens voltou aos Estados Unidos, passou a tocha da sabedoria adquirida a duras penas de uma forma tão impecável como se estivesse passando o bastão numa corrida de revezamento que pretendesse bater o recorde mundial. "Desde então, dediquei a maior parte de minhas horas", escreve ele, "tentando levar outras pessoas a sentir o que eu senti, a saber o que agora sei".
Para Owens e muitos outros atletas olímpicos, o ouro é uma conquista interior, a recompensa é mais invisível que visível, e o presente é tão maravilhoso que tem de ser mantido vivo envolvendo atletas e treinadores em suas comunidades muito depois que a tocha foi apagada ao final de cada Olimpíada. Se for verdade, como disse Emerson, que "O homem é uma chama nascida do vento", quando virmos a tocha olímpica ser reacesa, saberemos que o fogo sagrado estará são e salvo entre a raça humana.
 
 
Phil Cousineau
O ideal olímpico e o herói de cada dia
Editora Mercúrio


Dia 21, quinta-feira, a Tocha Olímpica será acesa em Olímpia, na Grécia, e iniciará seu caminho até o acendimento da Pira Olímpica na cerimônia de abertura dos 28º Jogos Olímpicos, no rio de Janeiro.
Dia 16 de julho passará por Itararé!





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